Uso do termo "Enfermeira" em novela da Rede Globo causa polêmica.



Quando a Rede Globo anunciuou que uma novela em horário nobre teria uma Enfermeira como uma das protagonistas gerou grante expectativa por parte da classe da enfermagem, isso porque, no auge na PL em prol de 30 horas semanais e de melhor salário todos acreditavam que a globo trabalharia o tema de modo a valorizar a profissão. Entretanto, o que observou-se é que a personagem foi tão somente uma cuidadora domiciliar e que em alguns capítulos usou o nome de enfermeira e em outros de técnica de enfermagem, quando na verdade em nenhum momento executou trabalho de enfermagem.

Finalmente, o COREN-RJ tomou a iniciativa de encaminhar carta aos autores da novela discorrendo sobre o assunto. Esta carta circula na internet e esperamos que o COFEN também tome um posicionamento de modo a fazer com que a novela ganhe novo rumo e mostre a enfermagem como profissão imprescindível e que deve ser valorizada.






Confira a carta na íntegra:

Resposta do Coren sobre a polêmica da personagem Norma em "Insensato Coração"

Ilmos. Srs. Gilberto Braga/Ricardo Linhares/Denis Carvalho
DD. Autores e Diretor da Novela "Insensato Coração"

Considerando a apresentação dos capítulos iniciais da novela "Insensato Coração" e a atuação da dita "enfermeira", personagem chamada Norma, interpretada pela excelente atriz Glória Pires, passamos a tecer algumas considerações:

1 - As atividades domésticas desenvolvidas pela personagem Norma não são condizentes com as previstas para os ENFERMEIROS (profissional de nível superior com curso de graduação de pelo menos 4 anos), de acordo com a Lei no 7.498, de 25 de junho de 1986, que dispõe sobre a regulamentação do exercício da enfermagem;

2 – Na área de enfermagem três trabalhadores têm o seu exercício profissional previsto em Lei: o auxiliar de enfermagem (exigência de ensino fundamental completo + curso específico), o técnico de enfermagem (exigência de ensino médio completo + curso específico) e o enfermeiro (exigência de curso de graduação realizado de 4 a 5 anos– nível superior, podendo ainda cursar mestrado e doutorado na área ou em outras áreas do conhecimento);

3 – O exercício profissional do ENFERMEIRO no domicílio, em geral, é voltado para os pacientes de alto risco e dependência máxima do profissional, além do uso de tecnologia avançada.

Outrossim, nada impede que o Enfermeiro, o Técnico e o Auxiliar de enfermagem exerçam atividades junto a pessoas de menor risco de adoecimento. Contudo, suas ações são voltadas para a pessoa dependente de seus cuidados e não dos cuidados do domicílio, o que é uma deturpação da imagem da profissão;

4 – Em geral, o trabalho de CUIDADOR, acompanhante sem amparo legal para executar procedimentos exigidos por pessoas doentes, sua ação restringe-se à vigilância, à segurança, ao relacionamento amigável com a pessoa que é cuidada e com sua família. Tem importância na sociedade e, geralmente, presta assistência a idosos, mas não é enfermeiro, técnico ou auxiliar de enfermagem.

Entendemos que a sociedade, em geral, é mal informada sobre a profissão de enfermagem, o que a faz vulnerável no momento de exigir cuidados sem risco, pois, desavisada, usa pessoas até bem intencionadas, mas que não estão capacitadas para este ramo do trabalho.

O trabalhador de enfermagem que luta há anos por melhores condições de trabalho, por carga horária de 30 horas semanais e salário compatível com o alto grau de responsabilidade que lhe é exigido para ajudar a salvar vidas, sente-se lesado com a imagem deturpada de seu trabalho, que pode inclusive enfraquecer a sua luta.

Como a Rede Globo tem a maior penetração televisiva nos lares brasileiros, ficamos preocupados com o uso indevido do vocábulo Enfermeiro em uma novela de grande audiência. Uma produção que, além de distrair, também tem o caráter informativo e de educação da sociedade através dos vários temas/texto que ela produz.

Temos certeza que como conhecedores, agora, do que as imagens levadas ao ar podem induzir a sociedade a entendimentos equivocados, além de deixar os profissionais de enfermagem bastante constrangidos socialmente, deverão tomar providências cabíveis para a correção dos fatos relatados.

Sempre certos de que os pensadores da Rede Globo primam pela verdade e a informação correta para a população deste país, colocamo-nos à disposição para qualquer outro esclarecimento.

Atenciosamente,
Pedro de Jesus Silva - Presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro